quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

MEDO ENTRE OS ÍNDIOS

A violência nas comunidades indígenas tem aumentado nos últimos anos. Na reserva de Dourados, em Mato Grosso do Sul, as famílias vivem com medo dentro das próprias casas.
A índia kaiowá Lourdes Braga está de luto pela morte do filho de 20 anos. O jovem foi torturado e morto com um tiro nas costas. ´´Ninguém tem dó, não. Chegou a noite, ninguém tem dó”, disse.
A família kaiowá mora na reserva de Dourados, em Mato Grosso do Sul, estado que lidera o ranking da violência indígena. O levantamento mais recente, de 2009, mostra que dos 60 assassinatos de índios no Brasil, trinta e três ocorreram no estado.
Indigenistas acreditam que o aumento da violência nas aldeias está diretamente ligado à diminuição do território do índio. No século XIX, por exemplo, as etnias terena, guaraní e kaiowá tinham cinco milhões de hectares para viver na região. Hoje, os cerca de 15 mil índios do município de Dourados dividem duas reservas de 3,5 mil hectares.
´´Nosso antepassado não vivia assim, não. Eles tinham de andar uma semana pra chegar ao vizinho. Hoje só um passo aí, você sai da casa e você já vê a casa do vizinho”, contou Getúlio Juca Oliveira, cacique caioá.
“Alguns não tem nem onde construir a própria casa. Eles têm alguma assistência à saúde e à educação, mas falta ainda outras políticas públicas voltadas para eles”, explicou o antropólogo Jorge Heremites.
Segundo um levantamento da Polícia Militar, só no ano passado ao menos 16 índios foram mortos vítimas de agressão na reserva de Dourados. Por lei, só policiais federais podem entrar em terras indígenas.
O problema, segundo as autoridades, é que a Polícia Federal não tem efetivo para o patrulhamento. Por isso, a Funai e a Polícia Federal estudam um acordo com o governo estadual para que a Polícia Militar faça um policiamento ostensivo nas aldeias de Dourados.
“O grande problema da Polícia Militar é que não temos a competência de oferecer o nosso serviço, que é o policiamento ostensivo preventivo, dentro das aldeias. Mas nós acreditamos que, com a documentação que já foi encaminhada para Brasília e com o termo de cooperação da União e do estado, essa competência será estendida às polícias militares pelo menos aqui no Mato Grosso do Sul”, esclareceu o coronel Marcos David, comandante da Polícia Militar em Mato Grosso do Sul.
“Nós precisamos também, neste caso, resolver definitivamente as atribuições e poder atuar. Não podemos ficar na situação que está hoje. Os índios estão sendo assassinados. Há problemas de violência graves no âmbito da comunidade, como a questão do abuso do álcool e do uso das drogas, e o estado não atuar. O estado democrático de direito tem que atuar nos três níveis”, lembrou Márcio Meira, presidente da Funai.
No domingo, mãe e filha foram assassinadas na aldeia, mortas a facadas. A polícia suspeita de latrocínio, roubo seguido de morte. Esse tipo de crime é comum na reserva.
“Nós esperamos que já no primeiro trimestre haja pelo menos uma atuação mais intensiva tanto da Força Nacional quanto da Polícia Federal nas aldeias de forma preventiva. O que esperamos que vá minorar a situação dos indígenas. O atendimento preventivo depende da celebração de um termo de cooperação. Infelizmente, há um limbo jurídico porque a comunidade é muito próxima da cidade. Então, nenhuma das polícias entende que é competente para a efetivação do policiamento preventivo. Com esse convênio, esperamos que essa situação seja resolvida. Esperamos que haja por parte da Polícia Federal e da Força Nacional, juntamente com a Polícia Militar, a efetivação de operações que visem a prevenção, principalmente o combate ao tráfico de drogas e à receptação de produtos na aldeia”, disse Marco Antônio Delfino, procurador da República.



Fonte: http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-343651,00.html

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