Muitas vezes ouvimos dizer que os índios falam 'dialetos' ou 'girias', algo diferente das 'línguas' que nós falamos. Mas devemos ter cuidado com esses rótulos, pois refletem idéias falsas tanto sobre as formas de expressão dos índios quanto sobre as nossas. Isso é porque pensamos que 'dialetos' e 'girias' são formas de expressão menores, mais pobres ou simplesmente 'erradas', e corremos o risco de associar essas idéias a qualquer grupo de pessoas que fala diferente de nós. Mas o estudo das línguas nos mostra que não é bem assim. Vamos ver, então, como os lingüístas vêem estas questões.
Primeiro, podemos afirmar, sem dúvida, que os índios falam 'línguas', tão ricas e completas quanto a nossa. Usando as suas línguas, podem falar de qualquer assunto e expressar noções das mais simples às mais abstratas-exatamente como nós fazemos usando português, inglês, chinês ou outra língua mais conhecida. Além disso, as línguas indígenas têm história e os seus falantes são detentores de tradições e literaturas orais extensas, com estilos e formas variados. Podemos pensar que apenas textos escritos podem ser chamados de 'literatura', mas de fato, as literaturas orais das sociedades indígenas refletem as suas experiências acumuladas, sua história, seus costumes, valores e conhecimentos. Enfim, a literatura de um povo-escrita ou oral-expressa igualmente a sua cultura e exprime a sua identidade.
Finalmente, o estudo das línguas nos mostra que nenhuma língua é falada o tempo todo da mesma forma por todos os falantes. Todas as línguas têm variantes-muitas vezes associadas a regiões geográficas-que reconhecemos porque apresentam pequenas diferenças de pronúncia ou até de uso de algumas palavras ou expressões específicas. São essas variantes internas de uma língua que os lingüístas chamam de 'dialetos'. Sendo assim, qualquer falante de uma língua (inclusive você!) fala algum 'dialeto' daquela língua.
Fonte: http://prodoc.museudoindio.gov.br/geral.php?ID_S=13
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