Já difundidas no setor privado, as políticas afirmativas surgiram a partir de parcerias. Mas especialistas garantem que não basta contratar: é preciso investir contra o preconceito
Manoela Alcântara
Arquivo Pessoal
Vanessa foi beneficiada por um programa entre a Febraban e uma universidade
O que ainda está em fase de debate no funcionalismo público já é realidade na esfera privada. Os bancos não estatais, por exemplo, adotaram políticas afirmativas após a divulgação de uma pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em 2007. O levantamento indicou que, nas instituições financeiras privadas, apenas 19% do quadro de funcionários era negro, que as mulheres ganhavam menos, ainda que tivessem a mesma capacitação dos homens, e que não havia pessoas com deficiência entre os empregados.
A mudança dessa realidade começou a partir de parcerias firmadas com a Seppir, a Fundação Zumbi dos Palmares, universidades e organizações não governamentais, que se uniram para inserir essas pessoas em bancos de talentos voltados para o ingresso no mercado de trabalho. “Todas passam por uma seleção, mas o número de oportunidades agora é maior. Treinamos nosso pessoal de RH para escolher os funcionários a partir do princípio da diversidade”, conta o diretor de relações institucionais da Febraban, Mario Sérgio Vasconcelos. Além disso, 10% das vagas de estágio no setor bancário são reservadas para alunos do Programa Universidade para Todos (ProUni). “São bolsistas de baixa renda e, em sua grande maioria, negros”, completa.
Vanessa Santos Antônio, 20 anos, é uma das beneficiadas por essas iniciativas. A estudante de administração de empresas da Universidade Zumbi dos Palmares viu sua vida mudar depois que conquistou uma vaga na área de recursos humanos do Banco Bradesco, quando ainda tinha 17 anos. “Nos dois anos que fiz de estágio, pude participar de 50 cursos disponibilizados pelo convênio”, calcula. Lá, teve a oportunidade de aprender sobre diversas áreas da empresa e de concluir um curso de formação, que lhe rendeu a contratação permanente.
A quatro meses de completar um ano na empresa, Vanessa confessa: “Sempre quis ser bancária. Vim da periferia, estudei em escolas públicas, não tive as mesmas oportunidades que muitos. Mas, hoje, sou uma profissional que tem capacidade para assumir qualquer papel na área financeira. Graças ao treinamento que me deram no Bradesco”, constata.
Conscientização
De acordo com Mário Vasconcelos, os bancos tiveram a preocupação de não apenas contratar essas pessoas, mas de investir no bem-estar delas. A diversidade nas instituições é tema frequente de palestras e campanhas de conscientização para que qualquer tipo de preconceito seja quebrado. “Queremos dar exemplos de cases de sucesso e aumentar ainda mais esse percentual. As ações voltadas para isso são primordiais, pois esse não é um problema que se resolve rapidamente. É preciso uma mudança no comportamento. É uma postura evolutiva e não de imposição”, alerta Mário. Para ele, as ações devem vir acompanhadas de campanhas de conscientização.
De acordo com a ministra da Seppir, Luiza Helena de Bairros, ações como essa mostram o potencial de políticas que surgiram nos últimos anos e que podem ser trabalhadas para diminuir as desigualdades. “Algumas empresas públicas aderiram ao Selo de Proequidade de Gênero e Raça e já têm suas próprias iniciativas. Outras criam programas de treinamento de seus recursos humanos, como a iniciativa dos bancos. Temos que aproveitar as boas práticas”, afirma a ministra.
Minorias
Mudança de mentalidade
Deficientes
O artigo 37 da Constituição Federal determina a reserva de vagas para pessoas com deficiência no serviço público e a Lei nº 8.112 delimita que essa salvaguarda seja entre 5% e 20% do total de oportunidades. Na área privada, a Lei nº 8.213/91 diz que toda empresa com mais de 100 empregados é obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com funcionários reabilitados ou deficientes.
Índios
A Lei nº 3.594 garante a reserva de 3% das vagas de concursos públicos no estado de Mato Grosso do Sul para índios. Além disso, institui reserva de 10% das vagas estaduais para negros. A estatística é de que 64 mil indígenas residem no estado de Mato Grosso do Sul, o que representa cerca de 3,7% da população.
Negros
A Lei nº 12.288 regulamenta o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da paridade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
Fonte:
CORREIO BRAZILIENSE-DF
17/01/2011
Editoria: EU CONCURSEIRO
Assunto: INDÍGENA
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