As lideranças reunidas em Campo Grande para o 7° Acampamento Terra Livre discutem diversos assuntos sobre a realidade das aldeias, destacando a urgência sobre a demarcação de terras indígenas. Segundo os dirigentes do evento, enquanto a terra que legalmente pertence aos índios não for restabelecida, outros problemas continuarão surgindo.
“Fico indignado em ver adesivos nos carros de Campo Grande pregando ‘Desenvolvimento sim, demarcação não’. Os indígenas não são contra o desenvolvimento, mas sim, contra o desenvolvimento que passa por cima do nosso sangue, dos nossos filhos”, declara Romancil Kretã, representante da Arpinsul (Articulação dos Povos Indígenas do Sul).
O líder indígena acrescenta que os povos indígenas estão na luta por direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988, mas que não são respeitados em sua totalidade. “No Brasil, até quem vem de fora é naturalizado e tem direito. Mas o indígena, que nasceu aqui, que estava aqui antes do Brasil ser Brasil não tem acesso a nada, precisando mendigar sua sobrevivência”, disse Romancil.
“Lanterninha” – De acordo com o assessor jurídico do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Rogério Batalha, Mato Grosso do Sul está em último lugar na garantia de direitos. “Enquanto muitos lugares avançam nas políticas públicas, o Estado regrediu e tem a pior realidade para os indígenas. São necessárias ações urgentes e sem duvida a demarcação é prioridade”, esclarece Rogério.
Um dos problemas criados pela falta de terras aos indígenas é a violência, com constantes casos de assassinato nas aldeias de Dourados. Segundo o Cimi, os povos guarani-kaiowá necessitam culturalmente de espaço, pois convivem em núcleos familiares, muitas vezes rivais entre si.
“Ao colocar 14 mil pessoas em 3,5 mil hectares se forma uma panela de pressão propícia para a violência. Os indígenas usam materiais da roça, como enxada e foice, para agredirem uns aos outros. Por isso a demarcação se mostra tão urgente”, afirma o assessor jurídico.
Segundo relatório do Cimi, Mato Grosso do Sul ocupa o primeiro lugar em número de indígenas assassinados em 2010.
Anastácio Peralta, líder da Aty Guasu (Grande Assembleia dos Povos Guarani), lamenta que as conversas com o poder público evoluam tão pouco no Estado. “Nosso sonho é recuperar ao menos 5% do que nos foi tirado. Será que vamos morrer sem ver o resgate de nosso território. Sem terra não temos saúde, não temos renda, não temos educação, não temos nada”, relata Peralta.
O 7° Acampamento Terra Livre continua até dia 19 de agosto, com discussões de eixos temáticos, painéis, mesas rendondas e votação de documento a ser encaminhado ao governo federal. O evento acontece na Aldeia Urbana Marçal de Souza, próxima ao bairro Tiradentes.
Fonte: www.campogrande.news.com.br - em 16 de agosto de 2010
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