Cerca de 300 índios de todo o Brasil, de 40 etnias, participaram de uma mobilização no centro de Campo Grande para chamar a atenção da população e de autoridades para os problemas que enfrentam e exigir a reestruturação da Funai (Fundação Nacional do Índio) e o cumprimento das garantias constitucionais de saúde, educação e moradia.
Os manifestantes chegaram a interromper durante alguns minutos o trânsito na avenida Fernando Correia da Costa, após a rua 13 de Junho, no sentido Shopping-Centro.
Estiveram na praça Ary Coelho, no centro da cidade com trajes, adereços e pinturas típicas, fazem danças e carregam palavras de protesto e reivindicação.
Os indígenas participaram durante três dias do 7º Acampamento Terra Livre, na aldeia urbana Marçal de Souza. O encontro resultou em uma carta pública de protesto e reivindicação que será encaminhada ao MPF (Ministério Público Federal), à Funai (Fundação Nacional do Índio) e à Presidência da República.
Da aldeia, os indígenas seguiram de ônibus até a Fernando Correia da Costa, de onde seguiram a pé até a praça Ary Coelho, onde prosseguem com a manifestação, que não tem hora para acabar.
Presidente da Comissão Municipal dos Direitos dos Povos Indígenas de Campo Grande, Enio de Oliveira Metelo, disse que os índios entenderam como uma afronta, o governo não ter liberado o Memorial da Cultura Indígena para a abertura do acampamento.
A guarani kaiowá Elaine Cabreira da Silva, de 21 anos, contou que o sentimento é de tristeza e raiva pelo desaparecimento no final de outubro de 2009 dos professores índios Genivaldo Vera e Rolindo Vera, após confronto com homens armados em uma fazenda de Paranhos (469 km de Campo Grande). Até hoje, somente o corpo de Genivaldo foi encontrado.
“O sentimento é de raiva para todos os indígenas porque ele (Rolindo) foi morto brutalmente, o corpo não foi encontrado e ninguém foi punido”, diz Elaine. Na faixa que ela carrega, a frase é “estamos em busca do corpo do professor Rolindo Vera – Justiça”. “O branco (sic) vai chegando e tirando a terra da gente, esse é o nosso medo”, diz.
Para o indígena da etnia Kaingang, Gerson Amantino, de 26 anos, do Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul existe muito preconceito contra os índios porque eles contrariam os interesses dos fazendeiros. Gerson diz que a situação de conflito dos índios com fazendeiros em Mato Grosso do Sul serve de alerta para outros estados.
O protesto chamou a atenção de quem passava pela rua. O representante comercial Rogério Carlos da Silva, de 26, teve que esperar os índios passarem para sair com o carro, mas não se incomodou com a manifestação. Ele disse que os índios deveriam ter mais direitos e atenção do poder público e sugeriu a criação de um fundo para atender a comunidade indígena. “Eles são patrimônio cultural nosso”, disse.
A professora de ensino infantil Luciene Costa, de 40 anos, afirmou que gostaria que os alunos dela, do ensino fundamental, estivessem ali para ver os trajes e adornos típicos.
Vitória – A manifestação acontece após um momento de vitória dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul. Na semana passada, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou liminares favoráveis à Famasul (Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul) que impediam a Funai de fazer vistorias em propriedades visando a demarcação de terras indígenas.
Fonte:www.campogrande.news.com.br - em 19 de agosto de 2010
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