Acampamento deve reunir mais de mil indígenas na aldeia Marçal de Souza
Índios do Amazonas, Nordeste, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo se unem a indígenas de Mato Grosso do Sul nos próximos três dias para discutir problemas como demarcações de aldeias, falta de terra, saúde, educação.
A sétima edição do Acampamento Terra Livre, que já foi realizado por seis vezes na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, acontece de hoje até quinta-feira na aldeia urbana Marçal de Souza, em Campo Grande. A expectativa é reunir 1.300 pessoas de diversas etnias, como terenas, pataxós, guarani-caiuás, tuxá e bororos.
De Mato Grosso, os índios bororo trazem denúncias sobre a expansão da PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) e usinas hidrelétricas, que alteram os cursos dos rios e trazem impactos ambientais paras as reservas indígenas.
“Tem PCHs no rio das Garças, rio das Mortes, Juruena e Tapajós. São as obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] nas áreas indígenas”, reclama o índio bororó Milton Bokodoregaru, de 24 anos, da aldeia Meruri, em Barra dos Garças. Outros problemas são as invasões de terras indígenas por madeireiros e posseiros.
Com 500 habitantes, a aldeia fica localizada a 46 km da cidade e os índios plantam lavouras para subsistência e comércio, mantêm seis tanques para criação de peixes e comercializam frutas. “Vivemos do modo indígena tradicional”, exlpica.
De Dourados, no Sul do Estado, a violência e a situação de confinamento são as maiores dificuldades relatadas por guarani-caiuás. A professora Elaine Cabreira da Silva, de 21 anos, sentiu na pele a violência das ações decorrentes do uso de drogas, que são comercializadas na aldeia Bororo.
“Tinha 16 anos e apanhei quando sai da escola. Três caras drogados me bateram, racharam a minha cabeça e quebraram minha mão”, relata. Ela escapou dos agressores porque outras pessoas passavam pelo local. “Desde os 9 anos já começam a usar drogas, álcool. Lá não tá muito bom não”, enfatiza.
Freqüentadora da igreja evangélica Deus e Amor, Eliane é representativa dos moradores que escolheram religião diferente da indígena. “Gosto de ser índia e sou índia onde quer que vá”, afirma Eliane.
A presença de igrejas, principalmente evangélicas e católica, não é consenso entre os indígenas.
Terra e morte – Liderança indígena da aldeia Jaguapiru, em Dourados, Anastácio Peralta teme que os índios além da terra, também percam referências como língua e religião. “Para a gente, nenhuma cultura é menor do que a outra. Mas a nossa parece menos importante”.
Quanto às vistorias da Funai (Fundação Nacional do Índio) para demarcações de terras indígenas, a expectativa é que o relatório seja publicado ainda em 2010. O atraso dura mais de um ano.
O MPF (Ministério Público Federal) já acionou a justiça contra a Funai. As vistorias enfrentam oposição do governo Estado, municípios e produtores rurais em Mato Grosso do Sul. “Me sinto em um campo de concentração, confinado”, compara Anastásio. As aldeias jaguapiru e Bororó têm 12 mil habitantes.
Outro ameaça aos indígenas é o alto números de suicídios. “A imprensa só fala do alcoolismo. Mas ele é só um fator. Isso [suicídio] não acontece se você está bem de vida”, pondera.
As reuniões do Acampamento Terra Livre serão realizadas em uma tenda na rua Galdino Pataxó. A homenagem é ao líder indígena que foi queimado vivo por cinco jovens de classe média quando dormia em um ponto de ônibus, em Brasília.
Fonte: www.campogrande.news.com.br/canais/view/?canal=8&id=303130
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