segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Aldeia da Capital reúne índios de todo país até 5ª feira

Acampamento deve reunir mais de mil indígenas na aldeia Marçal de Souza

Índios do Amazonas, Nordeste, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo se unem a indígenas de Mato Grosso do Sul nos próximos três dias para discutir problemas como demarcações de aldeias, falta de terra, saúde, educação.

A sétima edição do Acampamento Terra Livre, que já foi realizado por seis vezes na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, acontece de hoje até quinta-feira na aldeia urbana Marçal de Souza, em Campo Grande. A expectativa é reunir 1.300 pessoas de diversas etnias, como terenas, pataxós, guarani-caiuás, tuxá e bororos.

De Mato Grosso, os índios bororo trazem denúncias sobre a expansão da PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) e usinas hidrelétricas, que alteram os cursos dos rios e trazem impactos ambientais paras as reservas indígenas.

“Tem PCHs no rio das Garças, rio das Mortes, Juruena e Tapajós. São as obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] nas áreas indígenas”, reclama o índio bororó Milton Bokodoregaru, de 24 anos, da aldeia Meruri, em Barra dos Garças. Outros problemas são as invasões de terras indígenas por madeireiros e posseiros.

Com 500 habitantes, a aldeia fica localizada a 46 km da cidade e os índios plantam lavouras para subsistência e comércio, mantêm seis tanques para criação de peixes e comercializam frutas. “Vivemos do modo indígena tradicional”, exlpica.

De Dourados, no Sul do Estado, a violência e a situação de confinamento são as maiores dificuldades relatadas por guarani-caiuás. A professora Elaine Cabreira da Silva, de 21 anos, sentiu na pele a violência das ações decorrentes do uso de drogas, que são comercializadas na aldeia Bororo.

“Tinha 16 anos e apanhei quando sai da escola. Três caras drogados me bateram, racharam a minha cabeça e quebraram minha mão”, relata. Ela escapou dos agressores porque outras pessoas passavam pelo local. “Desde os 9 anos já começam a usar drogas, álcool. Lá não tá muito bom não”, enfatiza.

Freqüentadora da igreja evangélica Deus e Amor, Eliane é representativa dos moradores que escolheram religião diferente da indígena. “Gosto de ser índia e sou índia onde quer que vá”, afirma Eliane.

A presença de igrejas, principalmente evangélicas e católica, não é consenso entre os indígenas.

Terra e morte – Liderança indígena da aldeia Jaguapiru, em Dourados, Anastácio Peralta teme que os índios além da terra, também percam referências como língua e religião. “Para a gente, nenhuma cultura é menor do que a outra. Mas a nossa parece menos importante”.

Quanto às vistorias da Funai (Fundação Nacional do Índio) para demarcações de terras indígenas, a expectativa é que o relatório seja publicado ainda em 2010. O atraso dura mais de um ano.

O MPF (Ministério Público Federal) já acionou a justiça contra a Funai. As vistorias enfrentam oposição do governo Estado, municípios e produtores rurais em Mato Grosso do Sul. “Me sinto em um campo de concentração, confinado”, compara Anastásio. As aldeias jaguapiru e Bororó têm 12 mil habitantes.

Outro ameaça aos indígenas é o alto números de suicídios. “A imprensa só fala do alcoolismo. Mas ele é só um fator. Isso [suicídio] não acontece se você está bem de vida”, pondera.

As reuniões do Acampamento Terra Livre serão realizadas em uma tenda na rua Galdino Pataxó. A homenagem é ao líder indígena que foi queimado vivo por cinco jovens de classe média quando dormia em um ponto de ônibus, em Brasília.



Fonte: www.campogrande.news.com.br/canais/view/?canal=8&id=303130

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