Marcos Terena *
Como Índio Terena, Xané desse Estado e criado sob as bênçãos do Evangelho recordo do ensinamento bíblico do Bom Samaritano, da primeira missa no Brasil e penso em como seria a reação de pastores e padres na missa ou culto de hoje, diante de mais um assassinato contra os irmãos Guarani e Kaiwá que já haviam perdido Marçal de Souza, Marcos Veron e agora, Nisio Gomes, todos mortos com requinte de crueldade.
Por outro lado, como reagem os governos de Puccinelli ou Dilma Roussef e suas forças policiais federais ou estadual diante da crescente e impune agressão que as comunidades indígenas vem sofrendo na busca do direito básico e moral da demarcação das Terras.
Como reage o cidadão sul-mato-grossense ao ouvir a canção de Almir Sater, Sonhos Guarani.
Mato Grosso do Sul se orgulha de seu Pantanal, do boi verde e de suas gentes, entre as quais, a segunda maior população indígena do País.
Porém, carrega consigo a vergonha de ser o Estado que mais viola os direitos dos povos indígenas inclusive com o registro de vários assassinatos sem solução.
As formas utilizadas pelo inimigo da paz no campo e dos povos indígenas são quase idênticas seja contra o pequeno agricultor, o trabalho escravo, os Guarani, Terena e Kaiwá que mesmo com direitos reconhecidos vivem sob o medo e tensão diante da violência, discriminação, desrespeito aos valores humanos e a certeza até hoje, da impunidade.
O Governo Federal é o responsável pela demarcação das terras e pela proteção dos direitos indígenas.
A Justiça brasileira principalmente a de Mato Grosso do Sul também tem sua cota de responsabilidades e
deve através de suas instancias coibir sob qualquer argumento a violação dos valores humanos indígenas, individual ou comunitária, corrigindo possíveis enganos ou desacertos e assim, a discriminação e a intolerância.
Mas cabe ao Legislativo Estadual ou Federal regulamentar sem qualquer protelação política, a garantia dos recursos orçamentários e legais para a segurança dos indígenas como povos originais, dos camponeses ou fazendeiros pois é nisso que está a chave do respeito mútuo, da paz e da qualidade de vida com que todos sonhamos.
Nós Povos Indígenas temos orgulho do Mato Grosso do Sul. Foram nossos antepassados que receberam gente de todos os Povos como árabes e judeus que até hoje vivem em conflito em suas terras, para convivermos juntos como irmãos brancos e negros.
Sabemos das responsabilidades constitucionais de cada setor governamental, mas não podemos continuar com esse clima de medo em nossas aldeias que clamam por justiça. Não devemos aceitar mais a impunidade, mas exercitar um principio ético e étnico: respeito a diferença, a diversidade no direito de viver como irmão solidário, justo e lutador, mas jamais omisso!
Fonte:
(*)Articulador dos Direitos Indígenas e Membro da Comissão Brasileira da Justiça e Paz.
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