Há um temor entre a comunidade indígena da região de Dourados de que possa haver uma suposta interferência do governador Puccinelli no resultado das provas periciais que podem atestar, cientificamente, o que o atentado ao cacique Nisio Gomes pode ter sido fatal.
A reportagem apurou o questionamento depois da divulgação da notícia de que foi a Polícia Civil do MS, através da sua regional em Ponta Porã – e não a Polícia Federal-quem coletou as provas materiais do crime, como sangue, o chapéu, os cartuchos – e que realizou o levantamento fotográfico do local.
O material coletado foi enviado para Campo Grande, à Coordenadoria Geral de Perícias, órgão da Secretaria de Justiça e Segurança Pública do governo estadual, situado no Parque dos Poderes, próximo à Governadoria. O material está sendo examinado no Instituto de Análises Laboratoriais Forenses.
O temor dos indígenas foi expresso em contato telefônico, por uma das mais respeitadas lideranças indígenas que acompanha o caso desde o início.
A fonte, que tem receio de se revelar, afirmou quer o governador sempre demonstrou, publicamente, sua falta de respeito às comunidades indígenas do estado.
Um exemplo foi a expressãode Puccinelli, em agosto deste ano, em Dourados: “Dá papinha pro índio, dá comida pro índio, dá camisinha [sic], camiseta pro índio, dá kit escolar pro índio, dá escola, dá casa pro índio, agora vai ter que trocar pro índio também?”
Outro exemplo de manifestação de Puccinelli ocorreu em um seminário na Assembleia Legislativa, em maio deste ano, que provocou a reação do deputado Pedro Kemp:“Puccinelli quis jogar para a plateia, falou o que os fazendeiros queriam, desrespeitou os índios e o presidente da Funai, enfim, o discurso dele não contribuiu em nada. Pelo contrário, envergonhou o nosso Estado”.
No entanto, é preciso ressaltar que peritos profissionais e sérios nunca conduzem investigações criminais para atestar um “laudo encomendado”. Além disso, a presença da PF é constante no caso.
Em relação ao caso Nisio, a fonte indígena revelou um dado ainda não comentado - que muito sangue saiu da área frontal do rosto e do tórax do cacique, segundo ouviu de filho, Valmir Cabreira – que foi levado pela Funai para local ignorado.
PF afirma que não está vazando informações da perícia
Oficialmente, a assessoria de imprensa da Polícia Federal informou a pouco, por telefone, do local do crime, que não está fornecendo detalhes oficiais das investigações para nenhum veículo de comunicação.
O assessor ainda informou que o encontro de cartuchos não letais –balas de borracha, que também provocam sangramentos, principalmente na cabeça, não exclui a possibilidade do uso de outras armas letais - cuja munição teria sido se alojado como corpo do cacique, ou recolhidas depois dos disparos, em caso de cartuchos.
Ou mesmo a execução do cacique em outro lugar desconhecido. A informação diz respeito a versão de que o cacique poderia estar vivo.
Se cacique não tivesse sido removido do local, com em casos anteriores de mortes de indígenas na região, tudo seria mais fácil de esclarecer.
Chapéu que era do cacique está lacrado, segundo PF
Notícias da região informam que a perícia questiona o fato do chapéu do cacique Nisio não conter sangue, versão negada, oficialmente, porque o chapéu está lacrado, segundo o assessor da PF.
Também foi comentado o fato da perícia da Policia Civil estar procurando saber se o sangue encontrado no local é humano –que se não for atestado com clareza, colocará muitos pontos de interrogação no caso.Hoje, peritos da Polícia Federal e da Policia Civil fizeram mais um pente fino no local do atentado, à procura de mais vestígios do uso de armamentos letais.
MPF vai abrir ação penal em outros casos de sumiços de corpos
O Ministério Público Federal enviou nota informando que o assassinato de dois professores indígenas, que tem como indiciados um vereador, fazendeiros e o ex-prefeito de Paranhos, é alvo de ação penal. Na nota ainda informa que procurador da República, Thiago dos Santos Luz, que conduz o processo, critica a atuação morosa da polícia.
“Seis pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul (MPF/MS) pelo envolvimento no ataque à comunidade indígena Ypo'i (Paranhos, sul do estado) e a morte dos professores indígenas Jenivaldo Vera e Rolindo Vera. Entre os denunciados estão políticos e fazendeiros da região. Eles são acusados por homicídio qualificado – sem possibilidade de defesa da vítima -, ocultação dos cadáveres, disparo de arma de fogo e lesão corporal contra idoso.
Foram denunciados Fermino Aurélio Escolbar Filho, Rui Evaldo Nunes Escobar e Evaldo Luís Nunes Escobar - filhos do proprietário da Fazenda São Luís -, Moacir João Macedo - vereador e presidente do Sindicato Rural de Paranhos-, Antônio Pereira - comerciante da região, e Joanelse Tavares Pinheiro – ex-candidato a prefeito de Paranhos.”
O MPF entende que há elementos suficientes contra os denunciados para a abertura da ação penal. Para o procurador da República Thiago dos Santos Luz, “não se pode pretender encerrar precocemente o caso e impedir o órgão acusatório (MPF) de provar as suas alegações, no âmbito do devido processo legal. Além de todo o arcabouço fático-probatório produzido durante as investigações, já bastante para autorizar a deflagração do processo penal, outras medidas estão em curso.”
Ainda segundo o procurador, “é intrigante constatar que pelo menos seis indígenas, as únicas testemunhas oculares dos fatos, em depoimentos detalhados, verossímeis e harmônicos, prestados logo após os crimes, tenham expressamente nominado e reconhecido três indivíduos que participaram direta e pessoalmente do violento ataque a Ypo´i e nenhuma delas tenha sido sequer indiciada pela autoridade policial, que concluiu o caso sugerindo o arquivamento. Pergunto-me: quantos testemunhos mais seriam necessários? Depoimentos de índios não valem nada?”.
Fonte:
23/11/2011 14:45
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