Um grupo de fazendeiros da cidade de Miranda montou uma espécie de acampamento na fazenda Petrópolis, do ex-governador Pedro Pedrossian, que havia sido ocupada na segunda-feira de manhã por índios terena. Os fazendeiros entraram na área como meio de forçar a saída dos índios, que recuaram do local e agora se concentram perto da porteira da propriedade.
Os índios disseram que deixaram a área por “precaução”. Eles afirmaram que seguranças contratados pelos fazendeiros dispararam tiros, daí o recuo. Já os proprietários negam a investida. De segunda-feira para cá duas áreas de Miranda foram ocupadas pelos índios
As versões contadas pelos envolvidos nessa causa diferem uma da outra.
O comerciante João Carlos Amaral Goes, dono da Estância Amaral, área de 620 hectares, uma das ocupadas pelos índios, afirma que os fazendeiros não têm usado “armamento algum” e que os índios é que estariam portando “armas de fogo”.
“Estamos a mercê dos acontecimentos”, disse ele. Amaral afirmou que teme um confronto com índios. “Ontem apareceram por aqui um delegado e três policiais federais. Disseram para nós nos defendermos contratando segurança, só isso”, afirmou o fazendeiro.
Amaral narrou ainda que a ocupação dos índios tenha sido conduzida por “um ou dois” servidores da Funai (Fundação Nacional dos Índios). “Acho errado isso, os índios têm sido levado para frente da fazenda em um veículo da Funai, carro oficial, isso não está certo”, reclamou.
“Aqui, quem pode mais vai chorar menos”, disse Amaral acrescentando que as autoridades tanto estaduais quanto federais estariam desprezando o risco de conflito envolvendo os índios. “Sei lá o que vai acontecer se um tiro vier de lá [índios]”.
Amaral afirmou também, por telefone, que sua área, a Estância Amaral, nunca pertencera aos índios e que não recebera proposta da Funai para vender a área.
“Tenho 43 anos de idade e a fazenda Charqueada [que hoje se chama Estância] já tinha dono. Quando eu era criança o Pedrossian já era dono da Petrópolis, não é verdade que essas terras são dos índios”, protestou. A Estância permanece ocupada por ao menos 50 índios. As duas propriedades ocupadas ficam uns 8 km distantes do centro de Miranda.
Laudo preparado pela Funai indica que as áreas em questão foram identificadas como território indígena. Ainda assim, o STF (Supremo Tribunal Federal), corte máxima brasileira, por meio de liminar, garantiu a Pedrossian a posse da área. Essa decisão foi anunciada em janeiro do ano passado, pelo então presidente da corte, Gilmar Mendes. Amaral disse que também moveu ontem uma ação de reintegração de posse.
Versão dos índios
O líder indígena Vahele, um dos articuladores dos índios, disse que na madrugada de ontem os índios decidiram se afastar da entrada da fazenda de Pedrossian por ter ouvido disparos de tiros e ameaças. “Os fazendeiros gritam com a gente, chama a gente de vagabundo e que se não sairmos de lá vão atirar. Saímos por estratégia, precaução”, afirmou a liderança.
Vahele disse que ao menos 300 índios estão concentrados a beira da rodovia que passa em frente à fazenda de Pedrossian. “A distância de onde estamos até a porteira da fazenda é de 50 metros, daqui não vamos sair”, afirmou.
O líder reclamou também da ausência de autoridades no local. “Aqui só vieram os policiais militares e eles não conversam com a gente, somente com os fazendeiros”.
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