Os 170 membros integrantes do povo indígena Guarani-Kaiowá, que estão acampados no Tekoha (terra original) Ñanderu Laranjeira, em parte da fazenda Santo Antônio, no município de Rio Brilhante, divulgaram dramático apelo aos juízes do país em favor de sua permanência na área.
Em carta aberta, datada do último dia 26, e em nome de 30 idosos, 40 adultos e 100 crianças, as lideranças indígenas pretendem reverter a decisão pela reintegração de posse, tomada pela Justiça Federal de Dourados. Pela decisão, os indígenas deverão desocupar a área em duas semanas.
A parte reivindicada pelo Guarani-Kaiowá da fazenda Santo Antônio têm lavouras de soja e cana.
O maior beneficiário da produção agrícola da região é o conglomerado francês LCD, do Grupo Louis Dreyfys Commodities. Desde 2008, o LCD instalou uma planta de processamento de cana-de-açúcar em Rio Brilhante.
O grupo, que tem com 13 usinas só no Brasil, é a segunda maior empresa do mundo no processamento de cana-de-açúcar, com plantas e escritórios comerciais em 55 países.
O LCD-SEV também é o primeiro em comercialização mundial de arroz, de algodão, e está entre as três maiores empresas nos mercados de suco de laranja, trigo, milho, açúcar e café.
Em 2010, o faturamento do grupo foi mais de US$ 46 bilhões de faturamento (dez/10) .
Por seu lado, as lideranças Guarani-Kaiowá dizem, na carta aberta, que respeitam a produção agrícola local.
“Em torno de nosso acampamento há plantação de soja, nós aconselhamos-nos para não estragar e nem fazer mal a ninguém, respeitamos os não-indígenas, os proprietários de lavoura de soja, mesmo que eles ameaças nossas vidas diariamente de modo cruéis, impendido a estrada de nós, não deixando entrar para nós as assistências à saúde a os alimentos”, afirma-se em trecho da carta.
Além disso, as lideranças revelam profundo temor com a desocupação, “ visto que em qualquer momento seremos despejados de nossa área antiga reocupada por nós, portanto estamos com muita tristeza e perplexa, ao receber esta notícia da oficial da Justiça e da Polícia Federal e FUNAI”.
Veja a carta:
TEKOHA GUARANI-KAIOWÁ ÑANDERU LARANJEIRA-RIO BRILHANTES-MS
Para: todas as autoridades das Justiças do Brasil.
Senhores juízes federais do Brasil, nós 170 membros (100 crianças, 30
idosos, 40 adultos) do povo indígena Guarani-Kaiowá da tekoha (terra)
Ñanderu Laranjeira, vimos através desta carta explicitar as nossas vidas
diárias diante da última ordem de despejo expedida pela Justiça Federal
em Dourados-MS.
Em primeiro lugar, queremos contar a todos os juízes e sociedades que
estamos coletivamente em estado de medo, desespero e dor profundo, já
sobrevivemos em situação mísera e perversa há várias décadas.
Hoje no dia 26/01/2012, nós compreendemos claramente que nós não
temos mais chances de sobreviver culturalmente e nem fisicamente neste
país Brasil, visto que em qualquer momento seremos despejados de nossa
área antiga reocupada por nós, portanto estamos com muita tristeza e
perplexa, ao receber esta notícia da oficial da Justiça e da Polícia Federal e
FUNAI.
Já estávamos com a alegria praticando o nosso ritual sagrado dia-a-dia
aqui em minúscula terra antiga reocupada Ñanderu Laranjeira em que
retornamos nos últimos dois anos.
Aqui em pequeno espaço só passamos a praticar apenas os nossos rituais
religiosos sagrados jeroky para preservar a nossas vidas e garantir a nossa
sobrevivência como povo indígena originário do Brasil.
Aqui em pequeno espaço de terra antiga somente estamos
exclusivamente para sobreviver culturalmente, tentamos reeducar as
crianças na nossa cultura para vida boa, por isso praticamos diariamente o
ritual religioso sagrado onde transmitimos entre a nova geração o bom
viver futuro teko porã para não se envolver nas violências adversas
existentes em toda a parte do Mundo, queremos garantir a vida boa teko
porã de todas as crianças indígena que estão nascendo e crescendo aqui
em pequeno espaço de terra antiga Ñanderu Laranjeira.
Queremos sobreviver dignamente e culturalmente, com essa grande
esperança retornamos e estamos aqui em pequena terra antiga. Nós não
somos um povo indígena nocivo e nem destrutivo.
Em torno de nosso acampamento há plantação de soja, nós
aconselhamos-nos para não estragar e nem fazer mal a ninguém,
respeitamos os não-indígenas os proprietários de lavoura de soja, mesmo
que eles ameaças nossas vida diariamente de modo cruéis, impendido a
estrada de nós, não deixando entrar para nós as assistências à saúde a os
alimentos, etc.
Diante disso, há dois anos, nós comunidades indígenas apenas rezamos
para que eles (os brancos) compreendam a nossas vidas e nossas histórias
antigas neste local, não agredimos ninguém porque o nosso ritual religioso
controla a nossa vida e nosso comportamento diariamente, para isso
rezamos e acabamos de construir uma casa de reza oga pysy nopequeno
espaço de terra antiga.
Hoje (26/01/2012) recebemos aviso triste da oficial da Justiça juntamente
com a PF e FUNAI que seremos despejados as forças policiais em qualquer
momento de nosso pequeno espaço antigo.
O lugar pequeno antigo em que estamos morando hoje há ainda muitas
plantas medicinais ao longo de rio e córrego, há ainda sapé para cobrir a
casa, por isso acabamos de construir várias casas de sapé.
Aqui estamos felizes com as criançadas, rezando todas as noites,
educando diariamente para que não se envolvam nas violências adversas.
Aqui não ameaçamos a vida de não-índios e nem corremos risco de
ameaças dos não-índios, por isso nos sentimos bem integralmente nesse
pequeno espaço de nossa antiga.
Por essa razão, pedimos para permanecer aqui para continuar a prática
de nossa cultura e garantir um futuro melhor de nova geração indígena
para o país Brasil. Não queremos ser despejados daqui.
Em outro espaço de terra distante não seremos felizes e nem seremos
seguros para mantermos a nossa vida e prática culturais vitais já
fortalecidos e preservados aqui no pequeno espaço antigo Ñanderu
Larajeira.
Não queremos perder mais a nossa nova geração (crianças e jovens) para
o mundo de violências existentes tanto nas aldeias superlotadas quanto
nas margens da perifeiras das cidades e rodovias, por isso contamos com a
compreensão e atenção de Vossas Excelências para que possamos
continuar sobreviver culturalmente aqui no pequeno espaço antigo
Ñanderu Laranjeira em que iniciamos a nova vida boa longe das violências
adversas existentes das aldeias superlotadas e das margens da BR.
Queremos sobreviver culturalmente e fisicamente aqui, queremos
proteção e apoios vitais das Justiças do Brasil para garantir a nossa nova
geração guarani-kaiowá neste país sem vítimas de violências perversas.
A partir de hoje, a princípio a nossa sobrevivência depende
exclusivamente da Justiça do Brasil, por isso confiamos nas compreensões
das Justiças do Brasil.
Aqui aguardamos as visitações e ações das Justiças do Brasil.
Atenciosamente,
Assinamos nós 170 membros (100 crianças, 30 idosos, 40 adultos) do
povo indígena Guarani-Kaiowá da tekoha (terra) Ñanderu Laranjeira-Rio
Brilhantes-MS.
Fonte:
29/01/2012 17:40
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