Responsáveis pelo assassinato do cacique Nízio Gomes, após um
ataque ao acampamento indígena Guayviry no dia 18 de novembro do ano passado, em
Aral Moreira, cidade distante a 402 quilômetros de Campo Grande, 23 pessoas
foram indiciadas por homicídio qualificado, sendo que 18 já estão presas com
mandado de prisão preventiva.
Com parte das prisões, a Polícia Federal de Ponta Porã concluiu
nesta semana a segunda fase das investigações do inquérito policial. Além do
homicídio, os responsáveis vão responder por ocultação de cadáver, fraude
processual e corrupção de testemunhas.
Houve ainda o indiciamento de um funcionário da Funai (Fundação
Nacional do Indío), pelos crimes de quadrilha e coação no curso do processo,
haja vista ter tentado coagir uma importante testemunha a mudar seu depoimento
na polícia.
Como o caso ainda tramita em segredo de justiça, os nomes dos
indiciados não serão divulgados pela Polícia Federal, assim como detalhes
específicos sobre as investigações.
Dentre os presos, conforme já havia sido divulgado no jornal
Midiamax, dez pessoas são ligadas a uma empresa de segurança privada de
Dourados, incluindo o proprietário, gerentes e seis fazendeiros da região de
Ponta Porã e Aral Moreira. Um destes fazendeiros é presidente de um Sindicato
Rural no Estado de Mato Grosso do Sul, havendo também sido preso um advogado do
Paraná.
Novas provas colhidas pela PF apontam que efetivamente o
cacique Nízio Gomes foi morto no acampamento e seu corpo teria sido levado do
local em uma caminhonete, sendo os executores do ataque as pessoas vinculadas à
empresa de segurança privada de Dourados. Após isso, o corpo do cacique Nízio
Gomes teria sido ocultado pelos fazendeiros que atuaram como “mandantes” do
ataque aos índios.
O local onde está o corpo do cacique ainda está sob
investigação da Polícia Federal. Pelo que consta, alguns dos fazendeiros presos
sabem exatamente onde o corpo estaria escondido, no entanto nenhum deles
demonstrou interesse em colaborar com as investigações e informar o local em que
teriam ocultado o corpo.
Seria este, de acordo com a PF, um dos principais motivos que
justificariam o prolongamento das prisões, já que a estratégia até agora
utilizada pelos fazendeiros é de negar qualquer envolvimento com os crimes.
Após a morte do cacique Nízio e a ocultação do seu corpo,
alguns dos fazendeiros indiciados tentaram se utilizar de técnicas escusas para
dificultar o trabalho da polícia, chegando inclusive a contratar um indígena de
outra aldeia para fingir que estava ajudando nas investigações, mas na verdade
estava passando informações erradas.
Os fazendeiros e o advogado preso orientaram referido indígena
a dizer para a Polícia Federal que o cacique Nízio estava vivo e morando com
familiares em uma aldeia no Paraguai, pois na visão deles a polícia nunca iria
ter como checar estas informações e com isso iria sempre perdurar a dúvida sobre
sua morte.
Entretanto, após um intenso trabalho de investigação, os
policiais conseguiram provar ao indígena que ele estava indicando pistas falsas,
momento em que ele resolveu falar a verdade de que Nízio Gomes estava morto e
que ele havia sido contratado pelos fazendeiros para tentar ludibriar a polícia.
Em troca, os fazendeiros prometeram a ele uma grande quantia em
dinheiro (uma parte pequena foi efetivamente paga) além da contratação de um
advogado, caso fosse necessário, e ainda fizeram a promessa de que iriam adotar
as providências necessárias para elegê-lo vereador nestas eleições.
Antes do ataque ao acampamento Guayviry, este mesmo indígena
tinha sido contratado pelos fazendeiros para tentar negociar com o cacique Nízio
Gomes a saída do seu grupo em troca do pagamento de uma grande quantia em
dinheiro, mas como o cacique não aceitou, os fazendeiros resolveram contratar a
empresa de segurança privada para realizar o ataque ao acampamento.
As armas utilizadas no ataque ao acampamento Guayviry foram
fornecidas pelos fazendeiros e trataram-se de espingardas calibre 12, com
munições classificadas de “menos letal”, entretanto vale ressaltar que se o
disparo for feito em curta distancia ou se for utilizada de maneira inadequada,
pode ser tão letal quanto uma munição comum.
Uma das pessoas presas que participou da execução do ataque ao
acampamento confessou em interrogatório que o cacique Nízio foi atingido por um
disparo na região subaxilar e que ele havia participado da retirada do corpo do
local do ataque, tendo inclusive verificado o seu pulso e constatado a efetiva
morte do índio.
Este indiciado esclareceu, inclusive, que houve pouco
sangramento do cacique Nízio, o que se coaduna com o que foi descrito no laudo
pericial de que havia pouco sangue no local dos fatos. A Polícia Federal ainda
está promovendo diligências no intuito de encontrar o corpo de Nízio Gomes.
Durante todo o período de investigações, a Delegacia de Polícia Federal de Ponta
Porã/MS recebeu reforço de policiais no contexto da Operação Sentinela para
atuar no caso do ataque ao acampamento Guayviry.
Os fazendeiros e o advogado encontram-se presos na Delegacia de
Polícia Federal de Ponta Porã, havendo previsão de suas remoções nesta
sexta-feira (20) para Estabelecimentos Prisionais no Estado.
Acredita-se que o resultado das investigações no caso da morte
do Cacique Nízio Gomes tenha sido um marco no que pertine à forma de resolução
dos conflitos pela posse de terras entre indígenas e fazendeiros, pois
anteriormente nunca tantas pessoas tinham sido indiciadas e presas no Estado de
Mato Grosso do Sul por terem se utilizado da violência para tentar expulsar
indígenas da área de fazendas invadidas, servindo como paradigma de que a melhor
forma é sempre buscar os meios legais existentes para qualquer resolução de
conflitos
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